segunda-feira, abril 27

Lindo, mas ordinário

Se você for a Tiradentes, fuja do Santíssima Gula. O restaurante é uma graça, todo rústico, com um fogão a lenha no canto do salão aquecendo o ambiente e cercado de verde. A chefe Nancy, extremamente simpática e falante, nos recebeu e nos contou um pouco da história do restaurante, que vai fazer dois anos em agosto.

Tudo bem, sou um pouco exigente, mas aquela experiência foi demais para mim! A casa só trabalha com menus degustação. São 8 tipos, mas a diferença está mesmo no prato principal. O couvert é comum a todos e há dois tipos de entrada: uma salada com polvo e outra caprese. Escolhemos a salada caprese e o magret de pato com risoto de cogumelos.

A carta de vinhos era ruim e cara, problema comum entre os restaurantes da cidade. Curioso, pois das oito mesas do restaurante apenas uma não tomava vinho. Escolhemos o Casa Ribas, um Cabernet Sauvignon com cinco varietais diferentes na composição. Ruim, muito ruim.

O couvert é razoável: traz bolinhos de bacalhau, patê de fígado, caponata, jiló frito, uma mousse irreconhecível, atum desfiado e temperado, pequenas fatias de abacaxi com gengibre e cebolas carameladas. O intervalo entre o couvert e a salada foi de, pelo menos, 45 minutos. Em nenhum momento algo foi reposto. Enquanto esperávamos a casa ia enchendo.

A salada de “caprese” quase não tinha nada. Era um farto prato de folhas com uma cesta comestível com cubos de tomate cereja e mussarela de búfala. Tudo regado com um molho de balsâmico reduzido com direito a meio morango e uma fatia de carambola decorando o prato. Fomos informados de que havia folhas na tal caprese, mas não podia imaginar que eram tantas!

A expectativa para o magret era grande. Os pratos chegaram à mesa cobertos. Cresce a expectativa. Quando o garçom levantou e bati o olho no prato, falei: “é arroz comum”. De fato, era um risoto “totalmente” arroz à piemontese (daqueles do Bela Blu ou La Mole quando comia na década de 80) que matou totalmente o pato, que até estava correto.

Havia duas opções de sobremesas: uma panacota com calda de frutas vermelhas e uma trilogia de sabores mineiros. Pedimos uma de cada para experimentar. A primeira estava sem graça e a segunda, decepcionante. Uma fatia de carambola em calda, meio figo em calda e cocada branca com duas fatias de queijo branco no centro do prato.

Não era para errar no café, mas o garçon, que fez a operação abaixado (não há um espaço para a máquina, que repousa sobre um banco) trouxe algo intragável. Eu tiro um café melhor na minha pequena cafeteira caseira.

Para encerrar com chave de ouro, em tempos de insegurança e dinheiro de plástico, a casa só aceita cheque ou espécie. E não há nenhum aviso na entrada ou no cardápio (que era uma pasta de plástico bem da improvisada) e nada nos foi dito pelo garçom. Por sorte tínhamos sacado o dinheiro para pagar a pousada no dia seguinte. Era capaz de terminarmos a noite lavando as louças do jantar que, infelizmente, ficará na memória como o pior e o mais caro em três anos.

Serviço:
Santíssima Gula
Rua Pe. Gaspar, 343 - ao lado da Igreja da Santíssima Trindade
Tel: (32) 3355-1162

Um comentário:

Gustavo Mansur disse...

D. Ingrid!!
Menus degustação estão virando praga. Pelo menos na cidade de São Paulo virou uma febre neste estilo de única opção. O estranho é exatamente isso, nos grandes restaurantes o menu degustação tem sentido como uma forma de você apreciar a experiência completa escolhida pelo chef da casa. Mas nestes "grandes restaurantes" existe sempre uma carta com opções variadas.
O menu degustação como única opção acaba ficando algo típico dos pretensiosos. Existem exceções, mas são poucas.